terça-feira, 11 de novembro de 2008

Beatriz Peixoto

Desde muito cedo aprendeu o que é vida adulta.
Viu seus pais darem duro para alimentá-los e educá-los, mesmo em precárias situações. Para não se sentir imprestável, ajudava nas tarefas domésticas, lavando, varrendo, arrumando.
Tudo muito natural para uma família de imigrantes recém-chegada na Capital.
Só uma coisa a incomodava: a relação com o irmão. O que para ele era natural, para ela soava estranho. O toque de sua mão, a enojava. Mesmo assim preveria calar-me com medo da repressão.
Passou a cada dia a acuar-se mais e mais. Haviam dias onde sua voz não era ouvida.
Sonhava ser atriz, mas sua timidez afastava seu desejo.
Sempre impôs o machismo da família a todas as suas vontades.

Ao tempo que crescia, mostrava-se uma nova mulher. Começava a ficar falante, sociável.
Os amigos passaram a surgir, os namoradinhos também.
Mas a sensação da infância não a abandonava.
Sentia-se incapaz de amar...
Nunca foi altamente sincera, sempre ocultava fatos enquanto os narrava.
Sentia-se objeto!

Ao tempo que amadurecia, desistiu...
Deixou de se arrumar, abandonou os poucos amigos que tinha, introduziu-se novamente ao casulo ao qual pertencia.
Conheceu pessoas legais, arrumou um trabalho legal, um namorado legal.
E nada; o fim era sempre o mesmo: a solidão!

Quis um dia viajar sozinha.
Comprou uma passagem para uma pequena cidade do interior que datava o dia seguinte. Tinha pouco mais de 15 horas para se aprontar.
E assim o fez, no dia seguinte entrou naquele ônibus e fez uma retrospectiva da sua vida infeliz.
Antes de 2 horas de viagem, já não existia mais.
Nada fez;
Nada deixou, nem saudades...


Breve descrição de vida em entrevista imaginária.

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